Entrei ontem no barbeiro, já ao final do dia, no mesmo onde o meu pai - na sua existência ainda terrena - cortava o curto cabelo que ainda tinha. Bem longe da minha terra onde agora vivo. Já passava da hora e a porta estava encostada, mas lá dentro a tesoura trabalhava e assim ousei. Perguntei se ainda podia... O jovem que tesourava acenou a cabeça e convidou-me a entrar. No chão vi uma figura que não esperava. Uma velhota estendida que minutos atrás havia desmaiado. Levantei os olhos em tom de pergunta e a resposta veio: "estava aí sentada e de repente desmaiou. já chamei o inem... devem estar a chegar..." Parecia morta. E ele continuava a tesourar. Senti por ali a alma de Felinni a fotografar, a tomar notas para o seu próximo filme numa outra encarnação, se a tiver... Perguntei ao jovem barbeiro como se chamava a velhota. "Esmeralda", disse. A Esmeralda parecia morta. Respirar não se via. Pulso não se sentia. "Alimenta-se mal", dizia o profissional do l...
Caminhos, Respostas, Soluções em Si com Mário Rui Santos