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Quando uma relação de amizade, familiar ou amorosa é cortada ou terminada e vemos que a pessoa ou pessoas do outro lado parecem ficar pouco ou nada afectadas com esse distanciamento que fica poderemos sentir-nos bastante magoados.

E isso acontece porque o que se observa toca em necessidades humanas profundas de pertencimento, valorização e reciprocidade emocional. Quando vemos que a outra pessoa parece não se afectar com o afastamento, podemos sentir como se a nossa importância fosse diminuída ou até inexistente para ela.
O que mais costuma magoar nesse contexto inclui:
Sentimento de desvalorização
– A ideia de que a relação poderia ter significado pouco para o outro gera dor, pois esperamos que laços que foram importantes para nós também sejam reconhecidos e sentidos por quem os compartilhou.
Ferida no ego e na autoestima
– Inconscientemente, podemos interpretar a falta de reacção como se houvesse algo "errado" connosco, como se não tivéssemos sido suficientemente bons ou dignos de apego.
Ruptura com a expectativa de reciprocidade
– As relações humanas baseiam-se em trocas emocionais. Quando percebemos que o outro não sente a nossa ausência como nós sentimos a dele, há um choque entre a realidade e a expectativa de equilíbrio.
Medo de substituibilidade ou abandono
– Surge a sensação de que somos facilmente substituíveis ou descartáveis, o que pode activar memórias de rejeição anteriores e inseguranças mais profundas.
Luto por uma narrativa diferente
– Muitas vezes não dói apenas a perda em si, mas o colapso da história que construímos: imaginar que éramos importantes, que havia afecto mútuo, que deixaríamos saudade. Quando isso não se confirma, sentimos como se toda aquela conexão fosse colocada em dúvida.
Na essência, o que dói não é apenas o distanciamento, mas a falta de validação do nosso valor na vida do outro e a quebra da reciprocidade emocional que acreditávamos existir.
Para podermos lidar com a dor um passo importante é trazer à consciência estas possibilidades que nos magoam e lembrar que a forma como o outro nos trata ou tratou tem mais a ver com a sua história, carácter e/ou personalidade - e muito pouco connosco ou com as nossas características pessoais.
E apesar de ser dolorosa esta experiência toda ela é uma revelação sobre o outro, pela qual nos poderemos ir sentindo progressivamente gratos.
Esse é o caminho.

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