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O(s) MEDO(s) da MORTE

– Porque nos assusta tanto?
(artigo publicado na Revista Saúde Actual - Março/Abril 2025)

"Não é que eu esteja com medo de morrer. Eu só não queria estar lá quando isso acontecesse."
Woody Allen
...
Quanto mais conheço pessoas que têm medo da morte, mais me ensinam que existem medos diferentes.
Sim. Os medos da morte não são todos iguais.

Mas para mim, como terapeuta, há uma coisa importante que retiro como sendo uma verdade estratégica: é que o medo da morte não é um medo absoluto.
Isto parece significar pouco, ou ser nada importante.
Mas para quem trabalha a ajudar os outros a ajudarem-se, é muito, muito importante. Porque se percebe que este medo é um medo subjectivo, relativo...

Ou seja, cada um de nós terá tão mais medo da morte conforme aquilo que pensar dela. Assim, se eu pensar que a morte é o fim de tudo, o fim das ligações a quem quero bem, o fim dos meus sonhos por concretizar, o abismo, o nada, um corpo que apodrece, etc... - essa visão poderá ser pouco tranquilizadora. Talvez mesmo apavorante.

Se, por outro lado, olhar para a morte como uma etapa natural do crescimento da minha alma, que as ligações de amor e de afecto são eternas, que a viagem continua... - olharei para ela de uma forma diferente.

Mas será então o medo da morte uma questão de escolha?
Não querendo ser dogmático nem taxativo, ouso propor que sim.
No entanto, é uma escolha sobre a qual as pessoas pensam não ter controlo ou opção. Foram levadas, fomos levados, a acreditar em formatos fechados - observando-os como verdades absolutas.
E apesar de isso acontecer com a morte, não acontece só com a morte, mas com muito mais coisas-verdades supostamente absolutas.
Olhar para todas essas verdades absolutas, dando um passo atrás na nossa mente e observando melhor, ajudar-nos-á a perceber a matriz de opções infinitas que é este plano terreno em que vivemos, esta experiência que desfrutamos.
A visão da morte pode ser uma dessas verdades.

Valerá a pena olhar melhor para ela?
Não só valerá, como será fundamental.
Especialmente, se vivemos a nossa vida com medo dela.
E como escreveu Bertolt Brecht: "Temam menos a morte e mais a vida insuficiente."

Uma das grandes razões do medo da morte é a percepção mais ou menos consciente de que não se estará a viver uma vida minimamente feliz, satisfatória ou prazerosa.
E que, se assim for, a morte - quando ela acontecer - vem eliminar definitivamente a possibilidade de ainda se conseguir ser feliz.

Nestes casos, é importante perguntarmo-nos - apesar de todas as limitações ou condicionalismos - se conseguimos fazer algo por nós, para nos sentirmos mais felizes, mais satisfeitos ou realizados.
Porque seja o que for que possamos fazer, por mais pouco que seja, vale a pena fazer.

A proximidade da morte pode despertar a consciência do valor da vida. Embora a morte seja inevitável, a forma como vivemos a nossa vida é uma escolha. Podemos optar por uma vida plena e significativa, aproveitando cada momento, ou por uma existência vazia e desperdiçada. A decisão está nas nossas mãos: usar o tempo com sabedoria ou deixá-lo escorrer pelos dedos.

"Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere O "preto no branco"
E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da Chuva incessante,
Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o
Simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!»
Martha Medeiros in “Crónicas da Esperança”

Por fim, deixo-vos aqui um convite para assistirem a uma pequena apresentação sobre o medo da morte que fiz há alguns anos.

Tudo de bom, ou melhor ainda.

Mário Rui Santos
hipnoterapeuta – www.Hipnose.pro
formador da Hypnos/A-GPHM – www.Hipnoterapia.pro
presidente da Associação-Grupo Português de Hipnose e Motivação – www.Hipno.pt
*a pedido do autor, este texto não segue as normas do acordo ortográfico

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