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A Energia da Tristeza

Parece por vezes que somos cidadãos oprimidos da ditadura da felicidade e que quem não for feliz, num estado de permanência, não pertencerá ao clube dos bafejados, inspirados ou iluminados. E, por isso, pela interrupção desse estado, porque nos acontece algo de menos positivo, porque nos corre algo menos bem, deveremos auto-flagelar a nossa mente e o nosso corpo.

Auto-flagelar pela nossa responsabilidade desse momento, pelo que fizemos mal, pelo que dissemos e aí permanecer...nesse estado.
E esse estado é infelizmente para muitas pessoas um estado de conforto. A inacção ou falta de reacção e a continuidade dessa flagelação são para essas pessoas estados conhecidos e familiares. São terrenos habituais, muitas vezes percorridos e revisitados com uma frequência excessiva e pouco interessante.

Mas estes terrenos existem, em cada um de nós. São terrenos não de permanência mas de reflexão.
São terrenos onde encontramos a nossa Tristeza e ela nos dá um abraço e conversa como um amigo.
São terrenos de passagem e de visitas naturais, mas de permanência limitada.

Porque tal como a Alegria, que tanto gostamos de visitar e de partilhar momentos, a Tristeza quer-nos vivos ! Mantém-nos saudável e força-nos a pensar. É saudável sentirmo-nos Tristes se tivermos essa necessidade ou se formos até ela encaminhados. Mas devemos encarar as visitas a esta companhia amiga como isso...como uma visita e não como uma estadia.

Ela gosta de nos ver sair pela sua porta e dizer-nos adeus.
Não espera nem anseia pela nossa próxima visita mas está sempre disposta a receber-nos, com a certeza de que gosta sempre mais de nos ver partir com um sorriso.

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