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O silêncio dos culpados


O conceito de culpa não é uma coisa que me faça muito sentido. Mas esta é mais uma daquelas situações em que temos de gerir a precariedade das palavras existentes nos nossos dicionários, e à falta de melhor lá a vamos usando.

Assim, usamos a culpa para identificar a autoria voluntária ou involuntária de determinadas circunstâncias, factos, situações, etc. E a cada dia que passa, e que vou vivendo, faz-me cada vez mais sentido eu ir analisando as minhas autorias e as de quem me rodeia, especialmente daquelas pessoas com quem vou trabalhando ou as pessoas que me são mais próximas.

É para mim uma dinâmica imprescindível de desenvolvimento, meu e de quem me rodeia. Entendendo e melhorando. Por isso, cada vez menos me calo. Por isso, cada vez acho mais que vale a pena. Por isso, às vezes sou incómodo.
Incómodo, porque confronto, sempre dando a minha face para me confrontarem com aquilo que também vou fazendo menos bem e de peito aberto para assumir a minha responsabilidade, a minha autoria. É isto que me faz sentido.
Há quem lhe chame assertividade, eu chamo-lhe tranquilidade. Uma força tranquila.

Acredito também que esta forma de estar faz cada vez mais sentido para um também cada vez maior número de pessoas, e que esta propagação pode mudar o mundo. E vai mudar o mundo.
Mas numa fase de transição, temos de ter um crescimento adaptado e pedagógico de acordo com as circunstâncias, lembrando sempre - e isso é fundamental - que erramos também, e bastante.
E esta adaptação e pedagogia materializa-se na forma calma e tranquila como expomos a situação e no espaço e tempo que damos para a necessária e indispensável contra-argumentação.
Temos assim tempo para pensar e deixar fluir as palavras e a sua energia. Primando por manter sempre um tom de conversa e nunca de discussão.
Assim, a conversa flui, as impressões trocam-se e novas perspectivas constroem-se.
É isto que me faz sentido.

No entanto este é um processo que nos coloca a todos em contacto com aquilo que fazemos bem e menos bem, e nem sempre as pessoas gostam de ser confrontadas com aquilo que de menos bem fazem na vida. Consideram-se imutáveis e que aquilo que fizeram faz parte da sua matriz, sem qualquer possibilidade de reenquadramento. Preferem sentir-se incomodadas, gritar, amuar, ficar silenciosas, ressentidas...algumas chegam mesmo a afirmar que essas energias menos interessantes que geram nelas próprias as fazem viver. Como se o rancor, a culpa, o ressentimento e outros similares tivessem uma utilidade na permanência na vida de alguém.
Essas pessoas precisam de nós, somos responsáveis perante elas, pelo seu reenquadramento destes tão pouco interessantes sentimentos.
Não são pessoas de energias negativas, não. Isso não faz sentido.
São pessoas vazias de luz, que precisamos de ajudar a abrir uma janela, a afastar as cortinas, a tirar as mãos dos olhos. E que também por vezes nos ajudam a aclarar algumas partes de nós. São desafios que a vida nos coloca, como muitos outros que nos vai colocando.
E perante estes desafios a única opção não viável é o silêncio.

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"Ao quebrar o silêncio a linguagem realiza o que o silêncio pretendia e não conseguiu obter."
Maurice Merleau-Ponty
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REM - "Losing my religion"

Comentários

Anónimo disse…
Caro MR, antes de mais deixa-me dizer-te que foi muito bom relembrar estes REM :) em relação ao resto faz-me todo o sentido esta orientação estratégica - com algumas adaptações pessoais, é claro - pela parte que me cabe, propagarei ;)
Anónimo disse…
Comunicar é preciso :) abraço
Anónimo disse…
Mas às vezes precisamos de algum silêncio para depois o quebrarmos de forma serena

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