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Paixões, amores, encontros, desencontros e reencontros


18h45 ligo para um número de alguém que me ligou para o telemóvel. Um número que não conheço e procuro identificar, como habitualmente faço quando alguém me liga e não posso atender.
Do outro lado da linha a voz de uma mulher. Familiar. Familiar demais.
"Mário Rui ?" - pergunta-me aquela voz.
"Sim, sou eu !" - respondo, estúpida e injustificadamente zangado. Mais tarde percebo porquê.
- O que queres ? - continuo eu. Zangado, ainda sem saber porquê.
- Ligaste-me, e eu liguei-te de volta ! - diz-me aquela voz do passado.
- Impossível ! Nem sequer tenho o teu número...não percebo o que estás a querer dizer !
Do outro lado a voz insiste: - Ligaste-me !
- Impossível ! - respondo eu ainda zangado.
- Pois não sei o que aconteceu ! - diz-me a voz - Mas está tudo bem contigo ? Com os miúdos também ?
- Sim. - mais calmo - E contigo ?
- Tudo lindamente. Já agora aproveito para te desejar um feliz natal.
- Um feliz natal também para ti.
Desligámos.
Mais tarde liguei para aquela voz do passado.
Pedi-lhe desculpa pelo meu tom zangado, perguntei-lhe tranquilamente como estava e despedi-me, pacífico.
Deixando de novo aquela voz...no passado.

Comentários

Anónimo disse…
muitas vozes do passado nos surgem de vez em quando. mas como me disseste uma vez, sempre que elas nos surgem são oportunidades de reescrevermos ou assinarmos por baixo o fim de um capítulo da nossa vida ;)
Paula noguerra disse…
O passado pode ser algo de muito tortuoso.. daqueles de querer escxonder dentro do bau... fechar ás chaves e deitá-lo ao Oceano para ele não voltar...
Qdo a vida nos obriga a continuar a viver num passada quando no fundo queremos é seguir em frente... é quando nos perguntamos muitas vezes porquê??? vivo o meu passado no presente e NÃO QUERO... doi mto...
Anónimo disse…
Sim, doí muito! Aprendi que a melhor forma de harmonizar o presente é aceitar o passado, não o negando, nem esquecendo, mas enfrentando-o sem medo!
As restrições do "Destino"* não devem interferir em qualquer relação, muito menos numa boa amizade.
Aprendi que o Amor nos dá a capacidade de entender tudo, inclusive os desencontros que só se dão quando não os entendemos.
Mas, sim, continua a doer, mas se continuamos vivos, é porque somos mais fortes e intensos que a dor.

* vida, caminho, percurso... sempre conscientes do nosso livre arbítrio.
Anónimo disse…
Vozes destas há muitas - e de algumas até já as suas gargantas morreram, mas ainda ecoam.
Quando as ouvimos ou sentimos é como a t.c. escreve: é sempre uma oportunidade de as deixar de novo no passado. Porque há vozes que só fazem sentido num passado sem sentido, um passado de que aprendemos o que já tinhamos a aprender.
Anónimo disse…
Há pouco aprendi, pela experiência dos Hawaianos, que o passado precisa ser amado. Nossas lembranças, boas ou más, são a mola propulsora da nossa evolu
ção.Existe um ritual de limpeza e transformação das nossas lembranças que os Hawaianos chamam de HO'OPONOPONO. Vale a pena conhecer - www.hooponopono.cm.br
Olá Catarina - conheço bem o Ho'oponopono e coloquei um post
sobre essa técnica/ritual há uns tempos atrás.
Obrigado por mo lembrares :)
E sabes: há partes do nosso passado que vamos sempre amar mais do que outras. E isso não nos impede de amar o nosso passado.
M. L. disse…
Partimos o passado que não parte.
Em nós se transforma e de nós parte.
"Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós." Antoine de Saint-Exupery

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