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"Bullying" e Amor – A minha história
Quando era miúdo, na escola primária, sofri algum “bullying” (uma palavra que não se conhecia na altura) – era um miúdo bem comportado e atento nas aulas. O que fazia confusão a alguns dos outros miúdos.
Mais tarde, na escola secundária, por razões idênticas e por ter começado a usar óculos outros miúdos gozavam comigo.
Para além disso, os meus pais não tinham muitas possibilidades financeiras e a minha forma de vestir era simples e sem marcas – o que levava alguns outros miúdos a inferiorizarem-me.
Quando tinha 16 anos comecei a trabalhar durante o verão e a ganhar e poupar algum dinheiro. O que me fez ficar um pouco mais espevitado e seguro de mim.
E, entretanto, as condições financeiras dos meus pais melhoraram – o que também ajudou.
No entanto, só muitos anos mais tarde me apercebi que muitas daquelas fricções psicológicas, emocionais – e algumas físicas - com as outras crianças e jovens tinham sido “bullying”.
E isso levou-me a ficar muito curioso.
Porque me fui apercebendo que nenhuma dor, ferida ou limitação me ficou.
Cheguei-me a pôr à prova em tudo o que pudesse ser sentido como humilhação ou rejeição e ia verificando que o impacto em mim parecia ter sido reduzido. Apesar de me ter deixado mais sensível a situações de injustiça, abuso ou desrespeito.
O tempo foi passando mas a curiosidade mantinha-se.
Hoje falo em público, dou formação, faço apresentações e todos os dias estou cara a cara com pessoas de uma forma que me exige algum – às vezes bastante - equilíbrio emocional.
A pouco e pouco fui cruzando a minha história com outras histórias de pessoas que também tinham passado por situações de “bullying” – algumas até bem mais graves do que a minha – apercebendo-me que (para aquilo que lhes aconteceu) o impacto até era reduzido.
Mas se em alguns esse impacto era quase marginal, com outros adultos que tinham passado por situações menos graves parecia que o impacto tinha sido muito maior.
Toda esta informação me fez ficar muito mais atento e fui-me apercebendo de uma variável presente na infância e adolescência daqueles adultos que em miúdos tinham sofrido “bullying”: o amor da família.
Parecia-me que aqueles que tiveram a felicidade de ter uma estrutura de suporte, uma família mais funcional e amorosa, ficavam de alguma forma mais blindados.
Como me parecia ter eu próprio ficado com o amor e carinho dos meus pais e da minha irmã.
Mais tarde em pesquisas e estudos que fui fazendo confirmei que uma estrutura familiar amorosa e saudável na verdade actua como um factor de protecção significativo para a criança ou jovem, tornando-o mais resiliente ao "bullying", embora não o torne completamente imune.
Assim, percebe-se que um ambiente familiar que proporciona os seguintes elementos tende a reduzir a vulnerabilidade ao "bullying", tanto na posição de vítima quanto na de agressor:
Comunicação Positiva e Aberta
- Ter um canal de diálogo onde o jovem se sinta seguro para expressar os seus sentimentos, medos e experiências é crucial. A criança ou jovem sabe que será ouvida sem julgamentos.
Apoio Emocional
- O suporte afectivo da família ajuda a construir uma boa autoestima e autoconfiança, que são elementos chave para que a criança desenvolva competências sociais e respostas mais assertivas diante de provocações.
Supervisão e Envolvimento Parental
- Pais ou responsáveis que se envolvem de forma positiva na vida dos filhos, estabelecendo regras claras e fazendo um acompanhamento da vida escolar e social, fornecem uma sensação de segurança e limites.
Estilo Parental Autorizativo/Autorizado
- Este estilo, que combina afecto e escuta com a imposição de limites e regras, está associado a uma maior competência social das crianças e a uma menor tendência a comportamentos agressivos ou de vitimização.
. . .
Por outro lado, famílias onde há violência, pouco afecto, falta de regras ou conflitos constantes (incluindo exposição à violência doméstica) tendem a aumentar a vulnerabilidade da criança ou jovem, porque...
Favorecem a experiência de um mundo inseguro.
Podem dificultar o desenvolvimento de habilidades sociais positivas.
Podem levar o jovem a reproduzir padrões de agressão ou a se isolar, tornando-se um alvo mais fácil.
. . .
Em conclusão, a qualidade do relacionamento e o apoio fornecido pela família são poderosos aliados na prevenção do "bullying" e no fortalecimento da capacidade do jovem de lidar com adversidades sociais.
Se queremos proteger as nossas crianças da violência deste fenómeno que é o "bullying" façamos tudo o que pudermos para lhes dar um ambiente seguro, amoroso e compreensivo.
Esse é o caminho.
. . .
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