2014/04/16

Em retiro...

2014/04/14

Regressão

2014/04/10

Quem somos?


Obrigado, Mafalda! 

...
Talvez ainda não saibamos quem somos ou o que somos...
Mas talvez - pelo menos e por enquanto - já saibamos o que não queremos ser.

"Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!"
José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo'

Fiquem bem, sigam bem, ou melhor ainda. 
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2014/04/07

Om

"Havia um coqueiro na margem, debruçado sobre o rio. Siddhartha encostou-se ao seu tronco, cingiu o tronco com o braço e olhou na direcção da água esverdeada que corria junto dele, olhou e sentiu-se invadido pelo desejo de desistir e de se perder nas águas do rio. O horrível vazio da água reflectia o terrível vazio da sua alma. Sim, estava perto do fim. Nada mais lhe restava, senão apagar-se, senão destruir a obra fracassada que fora a sua vida, deitá-la fora, desprezado pelos deuses.

Essa era a grande libertação, pela qual ele ansiava: a morte, a destruição da forma que ele odiava! Que os peixes devorem este cão chamado Siddhartha, este louco, este corpo corrupto e apodrecido, esta alma frouxa e profanada! Que os peixes e os crocodilos o devorem, que os demónios o despedacem!

Olhou para a água com o rosto desfigurado, viu o seu reflexo e cuspiu-lhe. Profundamente cansado, largou a árvore e virou-se um pouco para poder mergulhar e finalmente desaparecer. Inclinou-se de olhos fechados, em direcção à morte.

Então ouviu, vindo de regiões distantes de sua alma, do passado da sua vida cansada, um som. Era uma palavra, uma sílaba que ele próprio murmurara, inconscientemente, a antiga palavra que iniciava e terrminava todas as orações bramânicas, o "Om" sagrado que tanto podia significar "Completo" como "Perfeito".

Subitamente, no momento em que o som "Om" chegou ao ouvido de Siddhartha, o seu espírito entorpecido despertou e compreendeu a loucura daquilo que se preparava para fazer.

Siddhartha ficou profundamente horrorizado. Tal era a sua condição, estava tão perdido, tão enganado e tão abandonado por toda a sabedoria, que procurara a morte, que este desejo, este desejo infantil, pudera crescer nele: encontrar a paz, liertando-se do seu corpo! O que o sofrimento dos últimos tempos não conseguira, toda a dissipação, todo o desespero, aconteceu no instante em que o Om soou na sua consciência: Siddhartha reconheceu toda a desgraça e toda a sua loucura.

- Om! - disse para si mesmo. - Om! - E tomou consciência de Braman, tomou consciência da indestrutibilidade da vida, tomou consciência de tudo o que era divino, de tudo o que tinha esquecido.

Isto, no entanto, foi apenas um instante, um lampejo. Siddhartha deixou-se cair junto ao coqueiro, derrubado pela fadiga; murmurando o Om, encostou a cabeça às raízes da árvore e adormeceu profundamente.

Dormiu um sono profundo e sem sonhos, como havia já muito tempo que não conseguia dormir. Quando acordou, depois de várias horas, parecia-lhe que tinham passado dez anos, ouvia o murmúrio suave da água, não sabia onde estava e quem o trouxera para aquele lugar; abriu os olhos, surpreendeu-se ao ver árvores e o céu por cima de si e lembrou-se onde estava e como ali chegara. Mas deixou-se ficar muito tempo e o passado parecia-lhe coberto por um véu, infinitamente distante, infinitamente longe de si, infinitamente insignificante. Sabia apenas que abandonara a sua vida anterior (vida que, nos primeiros momentos depois de retomar a consciência, lhe parecera uma encarnação remota, como uma vida anterior do seu Eu presente), sabia que, miserável e enojado, quisera acabar com a sua vida anterior, mas que se tinha recomposto à beira do rio, debaixo de um coqueiro, com a palavra sagrada Om nos lábios, e que adormecera.

Repetiu baixinho a palavra Om, com a qual adormecera, e pareceu-lhe que o seu longo sono fora apenas uma repetição interminável do Om, dizendo-o, pensando nele, uma total imersão e fusão com o Om, com o inominável, com a perfeição.

Fora um sono maravilhoso! Nunca um sono o refrescara tanto, o renovara tanto, o rejuvenescera tanto! Teria talvez morrido, desaparecido e renascido com uma nova aparência? Mas não, ele conhecia-se, conhecia a sua mão e os seus pés, conhecia o lugar onde se encontrava, conhecia o Eu dentro do seu peito, este Siddhartha, decidido e único, mas este Siddhartha tinha-se, entretanto, transformado, renovado, estava incrivelmente acordado, desperto, feliz e curioso."

in "Siddhartha - um poema indiano" de Hermann Hesse
...

Om Shanti
Fica bem, ou melhor ainda! mmm
Mário Rui Santos
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