2008/11/22

Rejeição

Você desce um rio. A determinada altura surge um curso de água, que parece acompanhar o seu rio.
Belo. Com umas margens fantásticas. Você muda a sua direcção e começa a descer esse outro rio.
A corrente tranquila vai afastando-o, levando-o. Você aproveita e num gesto de amor olha para alguns pontos ou partes desse outro rio menos luminosas, menos coloridas ou menos vivas e preocupa-se, cuida-as. E limpa-se, banha-se, diverte-se enquanto o faz. Sente-se feliz. Tão feliz.
De vez em quando encosta o seu barco a uma ou outra margem, deita-se e observa. Desfruta sorri. A agua está morna. Mergulha, banha-se. Sente-se feliz.
Pontualmente, sobe aqui e ali um, um pouco contra a corrente. Mas continua descendo. Desfrutando.
Aventura-se um pouco mais e coloca-se no meio. Entre margens. Enquanto elas se afastam cada vez mais. Enquanto o leito se alarga e torna ainda mais bela a experiência.
É fantástica a experiência que temos, a beleza de que desfrutamos. Nadamos, sorrimos, flutuamos, navegamos. E o leito alarga, a corrente grita. Mas as margens são cada vez mais belas, e continuamos.
De repente...você não controla é sugado por um único caminho. A queda que se ouve. Os rápidos surgem. Tenta uma qualquer direcção. Qualquer uma.
É impossível. Só existe aquela em que você vai. A descida. E é engolido. Numa descida entre água e ar, sem saber ou sentir por onde vai ou para onde vai. Amaldiçoa o momento em que veio por aquele outro rio. Amaldiçoa-se a si, ao mundo ao rio que o banhou.
A sua queda continua, entre vácuo, vento, gotas, água...a sua vida parece acompanhá-lo no mergulho.
O seu corpo embate, duramente em algo que o envolve. Não respira. Quase sufoca.
Perdido, não sabe para que lado se salvar. Baixa os braços por instantes...o corpo flutua. Indica-lhe uma direcção.
A sua cabeça sai debaixo de água. Respira, ofegante. Renascido.
Reclama e amaldiçoa mais uma vez a sua escolha, o seu sofrimento.
Olha para trás, finalmente.
O rio, o seu rio, espera-o.

"Não deixaremos de explorar e,ao término da nossa exploração deveremos chegar ao ponto de partida e conhecer esse lugar pela primeira vez."
T.S. Eliot

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Esta abordagem à "Rejeição e Perda" irá continuar - se tiver algum comentário ou contributo agradeço-lhe o envio para mrs@marioruisantos.net ou através de um comentário a este post.
Obrigado

2008/11/20

Quem é Marin?

Há uns anos atrás, ainda estava em formação nesta área da hipnose clínica fiz uma primeira regressão com um professor meu. A experiência que tive foi a de apresentação de uma personagem druidíca numa reunião com outras idênticas e afins personagens.
Uma espécie de reunião de trabalho tida em plena floresta.
Sendo esta a minha primeira regressão, processei a informação na altura como tranquilamente podia e sabia. Atribuindo-lhe várias possíveis explicações mas numa postura contemplativa e tranquila.
Desde então, e de alguns meses para cá, espontaneamente tem-me surgido esta personagem em momentos diferentes da sua vida e da minha vida.
Num destes contactos um nome surgiu-me - Marin - e desde então alguns descritivos da realidade que vou experienciando nesta minha vida me surgem assinados por esta entidade em mim. Tenho desde então vindo a aprender a relacionar-me com ela como uma referência, talvez como um guia.
Estou-lhe grato.
Estou-te grato, Marin.
Mário

2008/11/17

"Não julgues aqueles que falham quando tentam, mas sim aqueles que falham por não tentar."
(aforismo de autor desconhecido)

2008/11/11

Urgentemente

É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor, É urgente permanecer.


Eugénio de Andrade