2010/08/05

O louco iluminado

Na zona onde eu moro, perto da Praça das Flores em Lisboa, vive-se um ambiente de quase aldeia. E como em todas as aldeias também esta tem o seu "louco oficial" (talvez o "iluminado disfarçado").
Um louco, neste caso, polivalente. Porque este funciona também como uma espécie de bobo com quem os pseudo-machos-alfa se divertem a gozar.
E uma dessas típicas dinâmicas de gozo é a brincadeira da moeda, em que ao João (o "louco" de serviço) é pedido, por um dos machos-alfa, que faça uma escolha.
Uma escolha entre duas moedas, em que ele ficará com a que escolhe. E assim lhe apresentam uma moeda de 1 euro e uma moeda de 50 cêntimos, ao que o João responde com um sorriso "Escolho a maior", apontando para a de 50 cêntimos. Fazendo com que todo o grupo de machos-alfa, ou aspirantes a isso, se escangalhe a rir.
Um dia destes, depois de mais uma dessas dinâmicas de grupo a que assisti de forma interessada, aproximei-me do João e perguntei-lhe:"Então, pá!? Não vês que eles te estão a enganar? A moeda maior não é a que vale mais, é a outra...".
Ao que ele me respondeu com mais um daqueles seus sorrisos: "Pois, mas se eu escolhesse a outra eles paravam de fazer essa brincadeira comigo...".

2010/08/03

Confesso

Confesso que gosto cada vez menos dizer “confesso que…”.
Confesso que quando digo isto, ou ouço alguém dizê-lo, sinto a culpa-recriminação que tanto se esforçaram por nos ensinar a sentir.
Este “confesso que…” é uma das expressões mais usadas quando alguém admite que errou ou partilha algo mais intimo.
No entanto esta expressão não premeia, nem reforça positivamente, essa tomada de consciência, sinceridade ou abertura. Antes pelo contrário, culpabiliza-a. Coloca-nos mais um peso em cima, lembrando-nos que nascemos em pecado, que somos pecadores, que vivemos em pecado sob o peso de um castigo-justiça divina supostamente representado por alguém nesta terra.

Libertemo-nos activamente de mais esta grilheta a que esta sociedade neo-feudal nos quer manter acorrentados!
Mudemos a forma de falar, nossa e dos outros.
Libertemo-nos da culpa para abraçar a responsabilidade que nos liberta e faz crescer.

O primeiro passo é o da reprogramação linguística que nos podemos propor a fazer.
Sempre que se ouvir dizer “confesso que…” algo em si lhe irá sinalizar essa possibilidade de mudança.
E se ela é uma mudança que lhe faz sentido, permita-se iniciá-la.
O seu ser sensível irá ajudar nessa mudança.

Assim, irá perceber que sempre que diz “confesso que…” poderá substituir por “admito que…”, “partilho…”, “informo…”, “anuncio…”, “indico…”, etc.
Parará de se apontar o dedo numa dinâmica de culpabilização.
Começará a aceitar-se a si próprio, dando a mão ao seu ser.
Responsabilizando-se. Crescendo.

Rádio de Qualidade, Experiência de Sensações

A ouvir e sentir...


Argonauta - Cidades Invisíveis III (Antena 2)

http://tv1.rtp.pt/multimedia/progAudio.php?prog=2182&clip_wma=71018



Obrigado, Miguel, por tão fantástica sugestão.

2010/08/02

Um dia as vedações irão ser assim...