Avançar para o conteúdo principal

Desfrutar aprendendo a confiar

Comentários

Anónimo disse…
Gostei muito do vídeo, parabéns!
Questiono-me se para viver o aqui e agora teremos mesmo que aprender a confiar...
Quando precisamos confiar é porque desconfiamos. A confiança não existe sem a desconfiança. Como nos lembraríamos de confiar se não tivéssemos o medo de não confiar?
A vivência do aqui e agora requere liberdade, liberdade de todos os medos ou dos seus opostos que expressamos.
Quando sentimos esse aqui e agora? Naquele segundo em que vislumbramos pela primeira vez um filho recém nascido, no cume da montanha ou na crista da onda, no amor puro onde o eu e o outro deixam de existir conceptualmente, quando sentimos o cheiro a terra molhada aquando das primeiras chuvas, ou na luminosidade de um simples pôr do dol, ou no sorriso de uma criança, ou ...
O aqui e agora é fundamentalmente uma experiência e não um conceito.
Uma experiência em que se dá uma "rendição" ao momento, nada queremos mudar, nada queremos ser ou fazer, tudo flui, a vida torna-se um milagre de luz, cor, aroma, sensações. O turbilhão mental dá lugar a uma profunda paz.
O que todas estas experiências de aqui e agora têm em comum é que "nós" ou a nossa história não está. "Beauty is when the self is not" Krisnamurti
Por isso, e ainda que todos nós já tenhamos tido experiências do aqui e agora" nos é dificil transformar essa experiência numa vivência. A nossa história parece estar sempre presente. Continuamente a mente nos oferece memórias do passado que se projectam num futuro. E, entre o ontem e o amanhã, perdemos o hoje, o agora.
A mente, dizem alguns, tem horror ao vazio... Será? É verdade que a mente está sempre a "tricotar" uma novela à qual habitualmente chamamos "a nossa vida".
Estamos quase permanentemente condicionados às histórias que a mente oferece. Ficamos à mercê dos medos pertuados, inutilmente. Pensamentos com registos emocionais mais fortes, como traumas, complexos, insatisfações, frustrações que se projectam e se expressam muitas vezes como objectivos, metas, sonhos,etc, são os mais recorrentes na mente tornando-se "a nossa vida".
Na realidade, por vezes parece que, esta nossa vida nada mais é do que uma história que continuamente contamos a nós próprios.
A vivência do aqui e agora não se compadece com este turbilhão mental permenente. O suposto "horror ao vazio" nada mais é do que o medo de perder a "história". Em meditação a ideia é precisamente abrandar drasticamente o turbilhão mental e o tal vazio pode ocorrer sob forma de plenitude. Neste contexto o tudo e o nada são o mesmo. Após meditação não ficamos horrorizados, bem pelo contrário. Reconhece-se que foram inúmeros os condicionamentos que levaram a mente a pensar imparavelmente. Tens que ser um bom menino, tens que ter boas notas, tens que ter um trabalho, família, carreira, carro, casa, tens de ser alguém, tens que ser melhor que os outros, tens que ganhar o apreço dos outros, tens que fazer exercício físico, tens que ter hobbies, tens que ter amigos, tens de pensar na vida e tens e tens e tens. Que alucinação! Cedo começámos a treinar a mente a pensar e repensar e repensar.
"Desfrutar aprendendo a confiar" diria simplesmente "desfrutar", sem aprendizagens, condicionamentos, sem história.

CD
Excelente comentário, CD. Grato - MRS

Mensagens populares deste blogue

Um caminho para a Luz, apenas um caminho...

Falamos e ouvimos falar tanto da Luz. De uma Luz. Uma Luz que nos ilumina, que nos acompanha, que está dentro de nós. Para alguns essa Luz é Deus, para outros o Universo, a força do Universo, a Energia Universal, o Ki, o Amor, a Paz. A Luz é tanto em nós e quanto mais nos sentimos no seu caminho mais a enriquecemos conceptualmente, tornando-a mais rica e poderosa. Para outros que se sentem distantes deste conceito, admitir a possibilidade de uma Luz, que ilumina e acompanha o seu ser é uma proposta de alienação do seu próprio conhecimento ou auto-construção. É algo que não faz sentido porque os distrai de si mesmos. A estes direi que a Luz de aqui falo-escrevo é também exactamente isso: o seu próprio conhecimento e força de construção. Assim, seja você uma pessoa mais racional ou uma pessoa mais espiritual, a proposta de caminho que aqui lhe deixo é uma proposta pragmática e universal. Que será tanto ou mais espiritual, tanto ou mais racional, conforme o seu próprio sistema de crenças

Mudança – O eterno caminho humano

Mudança – O eterno caminho humano (artigo publicado na Revista Saúde Actual - Nov/Dez 2024) "A mudança é a essência da vida." Reinhold Niebuhr A vida é mudança, evolução, crescimento, expansão. Aceitar e abraçar a vida é abrirmo-nos a esse crescimento, a essa constante mudança. A mudança de aspectos da nossa personalidade é sempre um tema controverso que gera, por vezes, discussões acesas - completamente desnecessárias, a meu ver. Isto porque há quem defenda acerrimamente a ideia de que as pessoas não mudam, elas apenas são como são e vão-se revelando ao longo do tempo. E, por outro lado, há quem defenda que as pessoas mudam e que em alguns casos até devem de mudar. No entanto, a discussão não se coloca entre se as pessoas mudam ou não mudam, mas sim na constatação biológica que todo o ser vivo tem um potencial adaptativo e evolutivo - como tal, tem um potencial ou possibilidade de mudança. "Mas se assim é, porque é que algumas pessoas parecem ficar cristalizadas e por

"Deu-lhe o amoque !"

Já ouviram com certeza esta expressão atribuída a alguém que não estaria nas suas melhores condições psicológicas. O que provavelmente não saberão é que este "amoque" é, de facto, um "amok". "Amok" é a palavra malaia que significa "louco de raiva". Muitas vezes usada de forma coloquial e em contexto menos violento, esta expressão define um comportamento sociopata em que um indivíduo, sem qualquer antecedente de violência, se mune de uma arma e tenta ferir ou matar alguém que apareça à sua frente. Estas crises de "amok" eram normalmente "curadas" com a morte do indivíduo em causa.