Há uns dias, numa das minhas viagens de comboio para o Porto tive a oportunidade (talvez felicidade) de ter nas cadeiras à minha frente um casal de idosos cuja conversa fui observando.
Neste casal, a mulher era nitidamente o elemento dominante.
O pobre homem mal se ouvia e das poucas vezes que falava conseguia-se perceber mais pela resposta da mulher do que por aquilo que ele dizia. E a resposta da mulher era, invariavelmente, um chorrilho de afirmações críticas quase degradantes. Coisas como: “Lá estás tu…”; “Então mas nem disso te lembras…”; “Tu sabes lá…”; “És sempre a mesma coisa…”; “Então mas eu não te disse já…”; “Ai essa cabeça…”; “Mas tu não sabes o que dizes?”; “Ai homem, homem, cada vez estás pior…”; etc, etc, etc.
E assim continuou durante duas horas e meia e por mais de trezentos quilómetros a uma velocidade sub-tgv.
Enquanto ia ouvindo esta conversa-monólogo ia pensando sobre o impacto que será ter uma companheira daquelas na nossa vida.
Poderia ser o contrário, assumindo o homem este papel de crítico negativo permanente, como já também observei algumas vezes.
E deste meu pensamento fui também criando a possibilidade que o corpo daquele desgraçado que à minha frente ia ouvindo aquelas “fantásticas” palavras, pouco faltaria para começar a somatizar aquela “profecia” ambulante que o acompanhava. Conseguia mesmo vê-lo a tornar-se um vegetal pouco ou nada pensante, num avançado estado de Alzheimer.
Nessa altura, não tendo já a mulher ninguém tão próximo para insultar talvez essa senhora começasse a insultar a sua pouca sorte, blá blá blá…
Desta observação, passei para a generalização de quantos casais andam nesta dinâmica de “alzheimerização”. Ou seja, vão-se “alzheimerizando” até que um deles cumpre a profecia do outro e o que “alzheimeriza” vê o estrondoso tiro no pé que foi dando.
Outra situação que ocorre numa outra altura deste nosso ciclo de vida é quando esta “alzheimerização” é feita de uma forma mais precoce, a uma criança ou a um jovem. Isso é grave, tão grave quanto aquela que se faz a um cidadão mais sénior.
Por isso vos peço meus caros amigos, estejam atentos a estes tristes “alzheimerizadores” e intervenham. Mesmo que não conheçam a pessoa que está a “alzheimerizar” o outro, seja um sénior, uma criança, um adolescente ou um adulto, mantenham-se em contacto visual com ele até que ele ou ela vos olhe nos olhos e no vosso pensamento transmitam-lhe esta mensagem: “Podes fazer bem melhor que isso meu irmão/minha irmã. Acorda dessa tua raiva ou zanga contigo próprio. Tu podes fazer bem melhor que isso...”
Fiquem bem ou melhor ainda.
Forte abraço
www.MarioRuiSantos.net
Neste casal, a mulher era nitidamente o elemento dominante.
O pobre homem mal se ouvia e das poucas vezes que falava conseguia-se perceber mais pela resposta da mulher do que por aquilo que ele dizia. E a resposta da mulher era, invariavelmente, um chorrilho de afirmações críticas quase degradantes. Coisas como: “Lá estás tu…”; “Então mas nem disso te lembras…”; “Tu sabes lá…”; “És sempre a mesma coisa…”; “Então mas eu não te disse já…”; “Ai essa cabeça…”; “Mas tu não sabes o que dizes?”; “Ai homem, homem, cada vez estás pior…”; etc, etc, etc.
E assim continuou durante duas horas e meia e por mais de trezentos quilómetros a uma velocidade sub-tgv.
Enquanto ia ouvindo esta conversa-monólogo ia pensando sobre o impacto que será ter uma companheira daquelas na nossa vida.
Poderia ser o contrário, assumindo o homem este papel de crítico negativo permanente, como já também observei algumas vezes.
E deste meu pensamento fui também criando a possibilidade que o corpo daquele desgraçado que à minha frente ia ouvindo aquelas “fantásticas” palavras, pouco faltaria para começar a somatizar aquela “profecia” ambulante que o acompanhava. Conseguia mesmo vê-lo a tornar-se um vegetal pouco ou nada pensante, num avançado estado de Alzheimer.
Nessa altura, não tendo já a mulher ninguém tão próximo para insultar talvez essa senhora começasse a insultar a sua pouca sorte, blá blá blá…
Desta observação, passei para a generalização de quantos casais andam nesta dinâmica de “alzheimerização”. Ou seja, vão-se “alzheimerizando” até que um deles cumpre a profecia do outro e o que “alzheimeriza” vê o estrondoso tiro no pé que foi dando.
Outra situação que ocorre numa outra altura deste nosso ciclo de vida é quando esta “alzheimerização” é feita de uma forma mais precoce, a uma criança ou a um jovem. Isso é grave, tão grave quanto aquela que se faz a um cidadão mais sénior.
Por isso vos peço meus caros amigos, estejam atentos a estes tristes “alzheimerizadores” e intervenham. Mesmo que não conheçam a pessoa que está a “alzheimerizar” o outro, seja um sénior, uma criança, um adolescente ou um adulto, mantenham-se em contacto visual com ele até que ele ou ela vos olhe nos olhos e no vosso pensamento transmitam-lhe esta mensagem: “Podes fazer bem melhor que isso meu irmão/minha irmã. Acorda dessa tua raiva ou zanga contigo próprio. Tu podes fazer bem melhor que isso...”
Fiquem bem ou melhor ainda.
Forte abraço
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