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Mudança – O eterno caminho humano


Mudança – O eterno caminho humano
(artigo publicado na Revista Saúde Actual - Nov/Dez 2024)
"A mudança é a essência da vida."
Reinhold Niebuhr
A vida é mudança, evolução, crescimento, expansão.
Aceitar e abraçar a vida é abrirmo-nos a esse crescimento, a essa constante mudança.
A mudança de aspectos da nossa personalidade é sempre um tema controverso que gera, por vezes, discussões acesas - completamente desnecessárias, a meu ver.
Isto porque há quem defenda acerrimamente a ideia de que as pessoas não mudam, elas apenas são como são e vão-se revelando ao longo do tempo.
E, por outro lado, há quem defenda que as pessoas mudam e que em alguns casos até devem de mudar.
No entanto, a discussão não se coloca entre se as pessoas mudam ou não mudam, mas sim na constatação biológica que todo o ser vivo tem um potencial adaptativo e evolutivo - como tal, tem um potencial ou possibilidade de mudança.
"Mas se assim é, porque é que algumas pessoas parecem ficar cristalizadas e por vezes até mais refinadas em características que não são muito positivas, saudáveis ou funcionais? Para si ou para os outros?"
E a resposta é:
1- Porque não querem mudar - acham que estão bem como estão e não vale a pena a mudança;
2- Porque não acreditam que podem mudar;
3- Porque têm medo de mudar - receiam perder a identidade, a estrutura, as relações;
4- Porque não conseguem mudar, apesar de já terem tentado...
Qualquer uma destas possibilidades se pode aplicar a pessoas que não mudam alguns aspectos que precisariam de mudar em si.
E lembrando-as podemos observar qual a que mais se aplica a cada uma delas, ou até a nós próprios.
Mas é importante observar as duas primeiras possibilidades, porque elas são as mais impeditivas para qualquer mudança: não querer e não acreditar.
É compreensível que muitos de nós tenham alguma aversão à mudança.
Quase todos passámos por episódios de vida, mais ou menos graves, que nos obrigaram (à força e com dor) a fazer mudanças.
Aliás, como eu gosto de lembrar, nós fomos socialmente programados a olhar para a mudança como algo que nos traz sofrimento: "A minha vida SOFREU uma mudança"(!).
Um importante passo para ficarmos em paz com a MUDANÇA é olharmos para o nosso passado de "mudanças" (forçadas ou voluntárias) focando a sua superação, o que de positivo veio com essa mudança - mesmo que pouco, ou quase nenhum... - e o que se pode ter aprendido com ela.
Este é um processo importante para estarmos mais em paz com a MUDANÇA e não a recearmos tanto.
Depois, é importante lembrar que - em grande parte das vezes - temos mais a perder do que a ganhar, ao não fazer ou aceitar a MUDANÇA.
O medo da perda de identidade como resistência à mudança
O medo mais ou menos consciente de perder a identidade é um sentimento profundamente enraizado na nossa natureza humana e é uma das grandes forças de bloqueio ao desenvolvimento pessoal e a todas as necessárias/fundamentais mudanças inerentes a esse caminho.
Mas porque é que receamos tanto perder essa identidade?
Porque ela nos dá um sentimento de pertença - A identidade de uma pessoa está frequentemente ligada a grupos culturais, sociais ou familiares. Quando alguém teme perder a identidade, isso pode reflectir o medo de perder a sua conexão com esses grupos ou com aspectos importantes da sua história e tradição.
Isso é especialmente relevante em contextos onde mudanças sociais ou culturais rápidas podem fazer uma pessoa sentir-se alienada.
Porque ela nos autodefine - A identidade é central para como as pessoas se veem. Ela dá sentido à vida e orienta as escolhas e comportamentos. A ideia de perder a identidade pode significar uma perda do senso de quem se é, levando a uma sensação de desorientação ou confusão sobre o propósito de vida.
Porque ela nos dá estabilidade e segurança - A identidade fornece uma base de estabilidade emocional e psicológica. Mudanças que ameaçam essa identidade podem gerar medo, pois as pessoas podem sentir que estão a perder algo essencial para a sua existência. Essa perda pode criar incerteza sobre o futuro e sobre como lidar com novos desafios.
Porque ela nos traz reconhecimento e validação social - Ser reconhecido e aceite pelos outros com base numa identidade específica é importante para a autoestima e para o bem-estar. O medo de perder a identidade pode estar ligado ao medo de não ser mais reconhecido ou valorizado.
Porque ela nos dá uma sensação de controlo e autonomia - A identidade dá às pessoas um sensação de controlo sobre suas vidas e as suas rotinas. Perder a identidade pode ser percebido como uma perda de autonomia, fazendo com que as pessoas se sintam vulneráveis às influências externas, sejam elas culturais, políticas ou sociais.
Todos estes factores se combinam para tornar a identidade um aspecto fundamental do ser humano, e a possibilidade de perdê-la pode ser aterrorizante, gerando resistência e medo da mudança.
No entanto, a busca de melhoria e desenvolvimento pessoal pode muitas vezes ser bloqueada por este receio de perda de identidade.
Por isso se torna tão importante encarar este receio e trazê-lo mais à consciência - melhorarmos como pessoas pode implicar uma profunda alteração nessa identidade, mas isso não quer dizer que a perdemos.
Antes pelo contrário.
Para nos abrirmos a essa alteração de identidade é fundamental que nos libertemos do medo de perder muito daquilo que ela procura preencher ou trazer: a sensação de pertença e autodefinição; estabilidade e segurança; reconhecimento e validação social; controlo e autonomia.
Assim, abrirmo-nos a uma etapa um pouco mais solitária, temporariamente indefinida, um pouco turbulenta, com alguma rejeição ou censura dos outros e sem sentirmos grande controlo no processo... é a corajosa conjugação de atitudes necessárias ao nosso crescimento e melhoria como seres humanos.
Quanto mais frontalmente nos posicionarmos para assumir esta tão dificil postura perante a mudança mais fluida ela será.
Difícil?!
Sim, sem dúvida.
Mas o mais importante e libertador desta nossa experiência humana é bem difícil.
Mário Rui Santos
hipnoterapeuta – www.Hipnose.pro
formador da Hypnos/A-GPHM – www.Hipnoterapia.pro
presidente da Associação-Grupo Português de Hipnose e Motivação – www.Hipno.pt
*a pedido do autor, este texto não segue as normas do acordo ortográfico

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