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Desertos, túneis, pântanos e buracos

Ykall para todos os sítios que olhava via areia. Ondas de calor transformavam o horizonte revelando-lhe riachos imaginários e oásis sorridentes. Mas ele sabia ainda que eram apenas miragens. Ele possuía, abraçava ainda essa lucidez de caminhante experiente que desde há muitas outras aventuras e desventuras o acompanhava.
O calor escaldava-lhe a lucidez mas confiante na sua imaginação, viu-se num túnel. Escolheu um ponto no horizonte e esse ponto passou a ser a sua luz. Avançou na sua direcção.
As pernas recebiam o bafo da areia ardente. Os joelhos eram dobradiças de chapa quente, mas as suas coxas estavam um pouco mais frescas. Viu-se num pântano, com água pelos joelhos, de fundo lodoso mas propício a um avanço confortável. Só não podia parar.
Por vezes o fundo alterava-se e momentaneamente Ykall surpreendia-se com a água morna do pântano pelo seu peito, enquanto caminhava no túnel da direcção da luz, avançando pelo deserto.
Eram buracos no lodo, uns com fundo firme tocado pelos seus pés outros com fundo pouco perceptível. Por cada buraco com fundo firme, Ykall sentia a proximidade das margens do pântano, da luz do túnel e de um oásis no deserto.
E assim, avançava, com a sua poderosa santíssima trindade: mente, corpo e espírito.
Parar era uma opção, mas ele não a escolhia.

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Assista à minha palestra, este sábado 28 de Março, sobre
Auto-Hipnose
pelas 19h00 - no "Lisboa Alternativa" (www.terraalternativa.biz)

Comentários

Unknown disse…
Ikall é Sábio. E cada vez mais Uno e mais Feliz por cada passo que avança, por cada túnel, por cada deserto, por cada buraco, por cada pântano... ;)
Anónimo disse…
Ykall somos nós, só que às vezes esquecemo-nos.
Anónimo disse…
Nossa Mente,
Nossa Sabedoria,
Nossa Força,
Nossa Paz Interior.

São estes os factores
que constroem o nosso
próprio suporte.

Penso que com o Ykall
o mesmo aconteceu.

Bonito texto Mário.
Beijo
Anónimo disse…
Do pantano nasce a flor de lotus.
Nosso suporte.
Nossa flor de lotus.
Abraço

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