E a Venilde contava-me: "Bem... eu, gatos, respeito... à distância..." depois de eu lhe ter dito o quanto gostava de gatos e lhe falava da gataria que vive comigo.
Continuava a Venilde: "Quando tinha quatro anos a minha mãe pediu-me para lhe fazer um recado, à mercearia por baixo da nossa casa. Fui comprar manteiga... Trazia a manteiga bem guardadinha comigo. Atrás de mim veio o gato do merceeiro, a cheirar a manteiga. Entrou na escada e quando fechei a porta, assanhou-se e atacou-me. Rasgou-me o vestido, arranhou-me o peito e a cara toda..."
Engoli em seco. O meu amor felino foi abanado. Sacana de gato, pensei eu.
Percebi também a razão pela qual a Venilde, de forma simpática, me transmitia que não gostava de gatos. Uma querida criatura.
Pois, claro! Com uma experiência daquelas na sua meninice, como é que alguém pode ficar a gostar de gatos?
Esta foi a mola.
A mola que me fez pensar e partilhar convosco a reflexão sobre este mecanismo tão básico e primitivo deste nosso ser.
Mas então, por causa de um sacana assustado de um gato haveremos de pensar que os gatos são todos criaturas hediondas, não merecedoras do nosso amor compassivo?
Pois. É assim que pensamos. É assim que funcionamos. Com generalizações.
No dia em que nós, e a Venilde connosco, conseguirmos pensar: aquele gato foi mau, aquele gato que arranhou a Venilde foi mau. Mas nem todos os gatos são tão maus ou tão parvos... avançamos num degrau do desenvolvimento do nosso ser.
No dia em que nos descascarmos desta quase-parva dinâmica de generalização de experiências, libertamo-nos de uma forma preconceituosa de ver e sentir a vida à nossa volta.
Num outro momento e espaço, Sandro dizia: "Quando eu era pequenino, e se por acaso começava a chorar, o meu pai dizia-me de dedo em riste: Sandro...os homens não choram...e se for preciso metes as mãos no bolso e agarras os tomates para não chorares...mas os homens não choram. Nunca!"
Mais tarde, alguns anos mais tarde, na adolescência de Sandro a mãe dele morreu. E ele teve vontade de chorar. Mesmo muita. Mas seguiu o que o pai lhe disse: agarrou os tomates e não chorou.
Sandro aprendeu então a gaguejar e anos mais tarde, não tarde demais, aprendeu que os homens podem chorar. E mais: que os verdadeiros homens, criaturas do bem, choram. Choram quando um ser amado morre, quando a dor surge... E que chorar é bom e faz bem.
Sacana de gato, palerma de pai (sim, há pais palermas que pensavam estar a fazer bem)... Deitemos os preconceitos no lixo, libertemo-nos de generalizações limiitadoras e observemos o mundo neste aqui e agora.
Os homens podem chorar e os gatos, na sua maioria, são umas criaturas tranquilas e especiais.
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Continuava a Venilde: "Quando tinha quatro anos a minha mãe pediu-me para lhe fazer um recado, à mercearia por baixo da nossa casa. Fui comprar manteiga... Trazia a manteiga bem guardadinha comigo. Atrás de mim veio o gato do merceeiro, a cheirar a manteiga. Entrou na escada e quando fechei a porta, assanhou-se e atacou-me. Rasgou-me o vestido, arranhou-me o peito e a cara toda..."
Engoli em seco. O meu amor felino foi abanado. Sacana de gato, pensei eu.
Percebi também a razão pela qual a Venilde, de forma simpática, me transmitia que não gostava de gatos. Uma querida criatura.
Pois, claro! Com uma experiência daquelas na sua meninice, como é que alguém pode ficar a gostar de gatos?
Esta foi a mola.
A mola que me fez pensar e partilhar convosco a reflexão sobre este mecanismo tão básico e primitivo deste nosso ser.
Mas então, por causa de um sacana assustado de um gato haveremos de pensar que os gatos são todos criaturas hediondas, não merecedoras do nosso amor compassivo?
Pois. É assim que pensamos. É assim que funcionamos. Com generalizações.
No dia em que nós, e a Venilde connosco, conseguirmos pensar: aquele gato foi mau, aquele gato que arranhou a Venilde foi mau. Mas nem todos os gatos são tão maus ou tão parvos... avançamos num degrau do desenvolvimento do nosso ser.
No dia em que nos descascarmos desta quase-parva dinâmica de generalização de experiências, libertamo-nos de uma forma preconceituosa de ver e sentir a vida à nossa volta.
Num outro momento e espaço, Sandro dizia: "Quando eu era pequenino, e se por acaso começava a chorar, o meu pai dizia-me de dedo em riste: Sandro...os homens não choram...e se for preciso metes as mãos no bolso e agarras os tomates para não chorares...mas os homens não choram. Nunca!"
Mais tarde, alguns anos mais tarde, na adolescência de Sandro a mãe dele morreu. E ele teve vontade de chorar. Mesmo muita. Mas seguiu o que o pai lhe disse: agarrou os tomates e não chorou.
Sandro aprendeu então a gaguejar e anos mais tarde, não tarde demais, aprendeu que os homens podem chorar. E mais: que os verdadeiros homens, criaturas do bem, choram. Choram quando um ser amado morre, quando a dor surge... E que chorar é bom e faz bem.
Sacana de gato, palerma de pai (sim, há pais palermas que pensavam estar a fazer bem)... Deitemos os preconceitos no lixo, libertemo-nos de generalizações limiitadoras e observemos o mundo neste aqui e agora.
Os homens podem chorar e os gatos, na sua maioria, são umas criaturas tranquilas e especiais.
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