Avançar para o conteúdo principal

O ciclo das experiências - a dor e o prazer

As experiências de vida podem causar-nos, entre outras sensações ou sentimentos, uma sensação de dor ou uma sensação de prazer.
As sensações de dor têm o seguinte ciclo:


Experiência->Dor->Ressentimento->Reenquadramento->Aceitação->Gratidão->Crescimento.

Muitas pessoas, face às experiências de dor (perdas, rupturas, rejeições, decepções, desilusões, frustrações, agressões, etc...) prolongam para além do que lhes é saudável a sua permanência num nível de ressentimento, prorrogando as suas condições de vítima ou culpado face à experiência. A verdade é que grande parte fica bloqueada nesse primeiro nível de processamento.

O processo de reequilíbrio retoma-se quando a pessoa consegue finalmente reenquadrar a experiência e a dor, valorizando o que há de posítivo a valorizar e a classificar como aprendizagem tudo o que de menos positivo há em relação a essa experiência. Ou seja, mesmo que aparentemente não exista nada de positivo a valorizar há algo bastante enriquecedor no processo: a informação, a aprendizagem, o próprio processo em si. Que contribuem directamente para o crescimento do indivíduo e para o desenvolvimento humano.

No entanto, este primeiro nível de reenquadramento, deverá ser feito com o cuidado de preparar o sujeito não para uma vivência de acautelamento ou traumatizada (que poderia comprometer o desfrutar de novas experiências), mas para uma postura de contemplação e total usufruto das novas experiências. Sem medos e com uma natural segurança acrescida.

Depois de reenquadrar a experiência e a dor, a pessoa começa finalmente a aceitar essa experiência como uma experiência de vida e não como um sofrimento, passando - após algum tempo - a demonstrar mesmo alguma gratidão por essa mesma experiência.

Esse é o nível em que o ser humano se liberta e cresce. Subindo mais um degrau.

---

Em relação às experiências de prazer, o ciclo é de alguma forma semelhante embora com outras valências emocionais:
Experiência->Prazer->Consolidação->Partilha->Gratidão->Crescimento

Também nesta dimensão, é curioso verificar como alguns de nós se mantém num baixo nível de usufruto de prazer - ignorantemente satisfeitos, num desconhecimento dos restantes níveis de evolução da condição humana. Numa sequência em que a consolidação surge como alternativa ao ressentimento e a partilha em paralelo à aceitação, numa comparação com a experiência de dor.

O ser humano é tão maravilhosamente simples na sua complexa diversidade :)

(in "A hipnose dos nossos dias" de Mário Rui Santos)

Comentários

Anónimo disse…
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
É apenas uma tese como muitas outras teses. Dela retiras o que te faz sentido, como farás provavelmente com muitas outras, e construirás a tua própria tese que te ajuda na gestão do teu equilíbrio, bem estar e crescimento como ser humano.
Anónimo disse…
Essa mudança do ressentimento para o reenquadramento, parece um pouco complicada.
Anónimo disse…
Na direcção certa!
Obrigado pelas orientações, vêm mesmo a propósito.
Até mais
O processamento do ressentimento é um momento que poderá requerer algum trabalho de adaptação de paradigmas e convicções. Não alterando o sistema de princípios o indivíduo adulto adapta as suas crenças e convicções a uma existência mais rica em aprendizagens e, como tal, mais sábia. Essa adaptação não se faz de um dia para o outro, mas faz-se e os ressentimentos processam-se e reenquadram-se.
Anónimo disse…
estes ressentimentos que para aqui tenho não são assim tão fáceis de "processar"
Anónimo disse…
Estas informações são muito boas. Mas na realidade não são de facil aplicação... como eu gostaria de passar por esse processamento neste momento!
Podem não ser muito fáceis, mas assim que nos abrimos ao reprocessamento, iniciamo-lo...

Mensagens populares deste blogue

Um caminho para a Luz, apenas um caminho...

Falamos e ouvimos falar tanto da Luz. De uma Luz. Uma Luz que nos ilumina, que nos acompanha, que está dentro de nós. Para alguns essa Luz é Deus, para outros o Universo, a força do Universo, a Energia Universal, o Ki, o Amor, a Paz. A Luz é tanto em nós e quanto mais nos sentimos no seu caminho mais a enriquecemos conceptualmente, tornando-a mais rica e poderosa. Para outros que se sentem distantes deste conceito, admitir a possibilidade de uma Luz, que ilumina e acompanha o seu ser é uma proposta de alienação do seu próprio conhecimento ou auto-construção. É algo que não faz sentido porque os distrai de si mesmos. A estes direi que a Luz de aqui falo-escrevo é também exactamente isso: o seu próprio conhecimento e força de construção. Assim, seja você uma pessoa mais racional ou uma pessoa mais espiritual, a proposta de caminho que aqui lhe deixo é uma proposta pragmática e universal. Que será tanto ou mais espiritual, tanto ou mais racional, conforme o seu próprio sistema de crenças ...
Quando uma relação de amizade, familiar ou amorosa é cortada ou terminada e vemos que a pessoa ou pessoas do outro lado parecem ficar pouco ou nada afectadas com esse distanciamento que fica poderemos sentir-nos bastante magoados. E isso acontece porque o que se observa toca em necessidades humanas profundas de pertencimento, valorização e reciprocidade emocional. Quando vemos que a outra pessoa parece não se afectar com o afastamento, podemos sentir como se a nossa importância fosse diminuída ou até inexistente para ela. O que mais costuma magoar nesse contexto inclui: Sentimento de desvalorização – A ideia de que a relação poderia ter significado pouco para o outro gera dor, pois esperamos que laços que foram importantes para nós também sejam reconhecidos e sentidos por quem os compartilhou. Ferida no ego e na autoestima – Inconscientemente, podemos interpretar a falta de reacção como se houvesse algo "errado" connosco, como se não tivéssemos sido suficientemente bons ou di...
A utilidade da raiva (artigo publicado na revista Saúde Actual - Julho/Agosto 2025) "Aprendi através da experiência amarga a suprema lição: controlar a minha ira e torná-la como o calor que é convertido em energia. A nossa ira controlada pode ser convertida numa força capaz de mover o mundo." -         Mahatma Gandhi   A raiva é uma emoção humana primária bastante intensa, geralmente despertada quando sentimos que algo está errado, injusto, é ameaçador ou frustrante. Tem componentes físicos (tensão, aceleração cardíaca) e psicológicos (pensamentos de crítica, desejo de agir) e é uma reação natural que faz parte do nosso sistema de defesa — uma forma do corpo e da mente dizerem: "Algo precisa mudar." E pode ser expressa, reprimida ou canalizada. Normalmente, no meu trabalho como terapeuta agrego à raiva a revolta, a ira, a zanga… como uma espécie de amálgama emocional à qual deveremos dar uma especial atenção para a sua compreensão e ...