Avançar para o conteúdo principal

O louco iluminado

Na zona onde eu moro, perto da Praça das Flores em Lisboa, vive-se um ambiente de quase aldeia. E como em todas as aldeias também esta tem o seu "louco oficial" (talvez o "iluminado disfarçado").
Um louco, neste caso, polivalente. Porque este funciona também como uma espécie de bobo com quem os pseudo-machos-alfa se divertem a gozar.
E uma dessas típicas dinâmicas de gozo é a brincadeira da moeda, em que ao João (o "louco" de serviço) é pedido, por um dos machos-alfa, que faça uma escolha.
Uma escolha entre duas moedas, em que ele ficará com a que escolhe. E assim lhe apresentam uma moeda de 1 euro e uma moeda de 50 cêntimos, ao que o João responde com um sorriso "Escolho a maior", apontando para a de 50 cêntimos. Fazendo com que todo o grupo de machos-alfa, ou aspirantes a isso, se escangalhe a rir.
Um dia destes, depois de mais uma dessas dinâmicas de grupo a que assisti de forma interessada, aproximei-me do João e perguntei-lhe:"Então, pá!? Não vês que eles te estão a enganar? A moeda maior não é a que vale mais, é a outra...".
Ao que ele me respondeu com mais um daqueles seus sorrisos: "Pois, mas se eu escolhesse a outra eles paravam de fazer essa brincadeira comigo...".

Comentários

t.c. disse…
neste mundo, ser louco é um sinal de sanidade.

Mensagens populares deste blogue

Um caminho para a Luz, apenas um caminho...

Falamos e ouvimos falar tanto da Luz. De uma Luz. Uma Luz que nos ilumina, que nos acompanha, que está dentro de nós. Para alguns essa Luz é Deus, para outros o Universo, a força do Universo, a Energia Universal, o Ki, o Amor, a Paz. A Luz é tanto em nós e quanto mais nos sentimos no seu caminho mais a enriquecemos conceptualmente, tornando-a mais rica e poderosa. Para outros que se sentem distantes deste conceito, admitir a possibilidade de uma Luz, que ilumina e acompanha o seu ser é uma proposta de alienação do seu próprio conhecimento ou auto-construção. É algo que não faz sentido porque os distrai de si mesmos. A estes direi que a Luz de aqui falo-escrevo é também exactamente isso: o seu próprio conhecimento e força de construção. Assim, seja você uma pessoa mais racional ou uma pessoa mais espiritual, a proposta de caminho que aqui lhe deixo é uma proposta pragmática e universal. Que será tanto ou mais espiritual, tanto ou mais racional, conforme o seu próprio sistema de crenças ...
Quando uma relação de amizade, familiar ou amorosa é cortada ou terminada e vemos que a pessoa ou pessoas do outro lado parecem ficar pouco ou nada afectadas com esse distanciamento que fica poderemos sentir-nos bastante magoados. E isso acontece porque o que se observa toca em necessidades humanas profundas de pertencimento, valorização e reciprocidade emocional. Quando vemos que a outra pessoa parece não se afectar com o afastamento, podemos sentir como se a nossa importância fosse diminuída ou até inexistente para ela. O que mais costuma magoar nesse contexto inclui: Sentimento de desvalorização – A ideia de que a relação poderia ter significado pouco para o outro gera dor, pois esperamos que laços que foram importantes para nós também sejam reconhecidos e sentidos por quem os compartilhou. Ferida no ego e na autoestima – Inconscientemente, podemos interpretar a falta de reacção como se houvesse algo "errado" connosco, como se não tivéssemos sido suficientemente bons ou di...
A utilidade da raiva (artigo publicado na revista Saúde Actual - Julho/Agosto 2025) "Aprendi através da experiência amarga a suprema lição: controlar a minha ira e torná-la como o calor que é convertido em energia. A nossa ira controlada pode ser convertida numa força capaz de mover o mundo." -         Mahatma Gandhi   A raiva é uma emoção humana primária bastante intensa, geralmente despertada quando sentimos que algo está errado, injusto, é ameaçador ou frustrante. Tem componentes físicos (tensão, aceleração cardíaca) e psicológicos (pensamentos de crítica, desejo de agir) e é uma reação natural que faz parte do nosso sistema de defesa — uma forma do corpo e da mente dizerem: "Algo precisa mudar." E pode ser expressa, reprimida ou canalizada. Normalmente, no meu trabalho como terapeuta agrego à raiva a revolta, a ira, a zanga… como uma espécie de amálgama emocional à qual deveremos dar uma especial atenção para a sua compreensão e ...