2007/02/01

Francisca, o Ex e Eu

Sou amigo de Francisca já há alguns anos. Fomos colegas de trabalho e ficámos amigos desde então. Encontramo-nos para almoçar frequentemente e falamos dos intervalos dos nossos encontros e da evolução que as nossas vidas toma nesses curtos períodos de um mês.

É uma mulher bonita, mas nela isso é o menos importante. Irradia uma energia que abre o coração e o sorriso de qualquer um, ao qual ela normalmente corresponde com igual ou maior sorriso.
Nesses nossos almoços entre garfadas, sorrisos, cumplicidades e outros temas, a conversa dela recai, frequentemente, em referências ao seu ex (entenda-se ex-namorado/companheiro). Em pequenas descrições que revelam uma Francisca de memória arrumada, classificada e perfeitamente enquadrada para com uma ruptura que lhe custou ultrapassar.

Mas vejo e oiço a Francisca, recorrentemente, exaltar qualidades e virtudes do seu "ex", de uma forma calma, tranquila e arrumada. Até aqui tudo bem.
Aquilo que já não estará assim tão bem é o facto de eu conhecer relativamente bem o "ex" de Francisca. Já o conhecia antes de a conhecer a ela, e conhecia-o enquanto companheiro de Francisca. Só mais tarde - e sem qualquer ligação através dele - vim a conhecer a Francisca.

Também sei que entre nós homens se houver alguém que nunca errou, então que venha até aqui e me agrida em pleno ecrã, mas...aquele indivíduo era mesmo daqueles espécimens que apesar de ter algumas virtudes (acredito que sim) era um ser humano que me fazia vergonha em ser homem. Estranho, mas verdade.

Imaginava eu a potência daqueles óculos cor de rosa de paixão que Francisca usou durante anos para gerir a relação com aquele indivíduo. Mas ela sentia-se feliz na altura com ele e isso é que era o importante.

Mas os anos foram passando, e agora de facto necessitava de algum esforço para me manter calado perante algumas descrições de Francisca sobre as qualidades ou virtudes do seu ex. Entre outros assuntos mais interessantes.
Ou melhor, eu não me mantinha calado. Porque sentia nas palavras dela por vezes uma nuance nostálgica e, nesse momento, rapidamente colocava em cima da nossa mesa um assunto bem mais interessante ou simpático.

Poderão pensar que eu talvez me sentisse ou sinta atraído por ela, por isso me sinta tão incomodado com essas suas referências. Acreditem. Já analisei profundamente essa matéria e confesso que há uns bons anos senti essa força a puxar-me para ela, mas rapidamente percebi que essa atracção era o mote para uma boa amizade. E, de facto, aconteceu. De forma tranquila.

Não meus caros e minhas caras, este é o dilema típico de alguém que sabe a verdade nua e crua, mas que antes de corresponder a um impulso animal de a revelar pondera bem as consequências que a revelação dessa verdade traz para o outro. Que sorri, feliz à sua frente e com o seu passado arrumado à sua maneira.

Mas quem sou eu para lhe alterar essa arrumação ?
Sei que daqui a uns tempos ela deixa de visitar aquela prateleira ou gaveta da sua memória. Por isso até lá, sempre que ela me falar daquela gaveta de memórias, sorrio com ela e falamos das muitas outras que nos fazem sorrir e crescer.
E é nesses momentos que por dentro também sorrio e me sinto a crescer.


(versão audio)

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

pois é... às vezes as Franciscas, as Luisas, as Rosários, as Marias, e tantas outras andam tão enganadas acerca dos seus companheiros (ou ex companheiros)
mas as pessoas são umas para as outras aquilo que são naquele momento, verdadeiramente
e está bem assim
e ainda bem que essas histórias do passado são guardadas. É que se viessem à superfície...acredita ou não...ainda magoavam. Mesmo depois das gavetas arrumadas.
É assim o amor...parvo todos os dias :)

terça-feira, fevereiro 06, 2007 1:26:00 da manhã  
Blogger Mário Rui Santos said...

...e às vezes são os Franciscos, os Mários, os Luises e tantos outros a remexer. Mas é mesmo assim, tanto remexem que um dia arrumam.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007 11:03:00 da manhã  

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