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A Raiva


Se há sentimentos que não gosto de sentir vivos em mim durante muito tempo um deles é a raiva. A raiva cega-nos, estupidifica-nos e contamina-nos de agressividade.

Há uns dias atrás aconteceu algo à minha mãe que me deixou num estado de raiva. Foi sujeita a uma pequena intervenção cirúrgica aos olhos e eu fui acompanhá-la ao hospital.Quando saíu da operação e a vi, assustei-me. Os olhos estavam negros como se ela tivesse sido agredida e alguém a tivesse pontapeado nos olhos.
Procurei explicações para o que havia acontecido. Senti um clima de culpa naquela enfermaria e percebi que algo tinha corrido mal.
Não tendo conseguido falar com o médico que a operou, levei-a às urgências no mesmo hospital e preparei-me mentalmente para apurar responsabilidades do que se passou, no dia seguinte. Sentindo em mim uma energia que me movia mas que ao mesmo tempo me parecia querer cegar em relação ao bom senso e à calma.

Nesse dia trabalhei até tarde. Quando finalmente me fui deitar não consegui adormecer. Uma torrente de pensamentos e maquinações pouco positivas atravessavam a minha mente.
Nesse momento, na minha mente dei um passo atrás.
O que vi na minha mente foi um cão, raivoso, que espumava da boca. Ladrando como um louco.
E o que fiz - porque com a nossa mente conseguimos fazer o que quisermos - foi aproximar-me dele. Procurando-o acalmar, falando devagar, dei-lhe algo de comer e também umas festas. Acalmei-o. E esse cão saíu da minha mente. Fiquei mais calmo.

Mesmo assim, com os meus olhos fechados e observando os meus pensamentos, surgiu-me uma nova figura. Um homem irado, vermelho de raiva, a gritar. Via mesmo a sua face vermelha e as veias a saltarem-lhe do pescoço.
Também nesse momento me aproximei dele. Falando com calma enquanto ele ainda ia gritando e esbracejando. Agarrei com firmeza, mas tranquilo, um dos braços e peguei-lhe na mão. Continuando a falar calmamente com ele e senti-o a ficar, também ele, mais calmo.

Dei-lhe um abraço e abraçamo-nos. Ficámos os dois calmos e tranquilos. E ele saíu, tal como o cão.
Adormeci. Com um sorriso no rosto, penso eu.

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"Persistir na raiva é como apanhar um pedaço de carvão quente com a intenção de o atirar em alguém. É sempre quem levanta a pedra que se queima."
Buda

Comentários

Anónimo disse…
A raiva é uma energia poderosa que quando convertida consegue ajudar-nos a fazer coisas poderosas e especialmente positivas
African Queen disse…
Ummmm... ok, concordo. A raiva não tem nada de positivo. Mas e o direito à indignação? No sentido de tentar encontrar caminhos e respostas construtivas? É que eu tenho problemas com a resignação, com o não fazer nada e deixar andar.
AQ não somos máquinas, somos seres emotivos e como tal temos direito mesmo até a ser por vezes irracionais - desde que de uma forma limitada no tempo.
E quanto à indignação obviamente que também temos todo o direito a ela, agora a forma como a exprimimos pode ser bastante mais interessante do que aquilo que está convencionado. E isso não quer dizer que resignemos, quer dizer que somos seres inteligentes e que sabemos materializar a nossa indignação de novas formas. Eu sei que concordas comigo.
Anónimo disse…
Sinto que raiva pode ser uma palavra muito forte para aquilo que às vezes sinto em determinadas situações, mas por outro lado sei que por vezes subestimo esse sentimento tão negativo. Como a african queen dizia também eu me indigno e gosto de ter o direito a me indignar, agora a forma como materializo essa indignação - como tu dizes - aí sim...aí penso que tenho de trabalhar mais um pouco. E obrigado pela dica. Abraço
Xicha disse…
A raiva é um sentimento horrível, já tenho sentido algumas vezes na minha vida e detesto é um sentimento que nos deixa escuros, negros, muito irracionais , uma das melhores alturas para parar e reflectir antes de perder a cabeça...
Xi

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