Imagine-se no sopé de uma montanha, que supostamente deveria subir. Olha para o topo da montanha, calcula aproximadamente o esforço que tem de fazer para a subir, e mentalmente a sua criatividade apresenta-lhe vinte razões para não começar a escalá-la agora. Este não é o melhor momento, não apetece, está cansado, tem de recuperar forças, tem de fazer ainda algo antes, etc. etc.
De repente olha para um dos seus lados e vê mais outras vinte montanhas que o convidam, quase provocam. Outro argumento rapidamente se coloca na sua mente. Aquela montanha que tem à sua frente não é provavelmente a mais prioritária, mas sim talvez aquela mais a norte ou aquela outra a oeste.
E à lista dos argumentos é acrescentada uma montanha de outros argumentos para não subir aquela montanha. Fica parado entre os sopés das várias montanhas que o rodeiam. Talvez à espera que as suas pernas ganhem vida própria e comecem elas uma escalada que não lhe apetece. Mas elas muito dificilmente tomarão essa iniciativa.
Nesse momento o seu olhar não se concentra no topo da montanha mas naquilo que lhe parece ser um trilho, num caminho para o topo. Aproxima-se e repara em alguns outros pormenores desse caminho, como pontos de apoio. E tudo lhe indica que essa parece ser uma boa forma de chegar ao topo. Não olhando para o topo, repara igualmente em mais dois outros caminhos, e decide-se por um.
Inicia a sua subida, desfrutando da caminhada. Quase com um sorriso.
Sente-se mais próximo do céu, mais leve, até que decide olhar finalmente para o topo dessa montanha mas não o vê.
Olha à sua volta, para cima, mas não o consegue perceber. Apenas repara num importante pormenor, todos os topos das outras montanhas que o rodeavam estão agora ao seu nível.
E sorri.
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"No perfume das flores de ameixa, O sol de súbito surge -Ah, o caminho da montanha!"
Matsuo Bashō (poeta japonês - séc.XVII)
Comentários
abraço p Ti Mário
Xi