2008/01/31

"Os 5 euros"


Um dia, quando um homem chegou já tarde a casa, como era habitual, cansado e irritado após mais um dia de trabalho, encontrou, esperando por si à porta, o seu filho de 5 anos.
- Papá, posso fazer-te uma pergunta?
- Claro que sim. O que é?
- Quanto ganhas numa hora?
- Isso não é da tua conta. Porque me perguntas isso?! - respondeu o homem, zangado.
- Só para saber. Por favor... diz lá... quanto ganhas numa hora? – perguntou novamente o miúdo.
- Bom... já que queres tanto saber, ganho 15 euros à hora.
- Oh! - suspirou o rapazinho, baixando a cabeça.
Passado um pouco, olhando para cima, perguntou:
- Papá, emprestas-me 5 euros?
O pai, furioso, respondeu:
- Se a razão de tu me teres perguntado isso, foi para me pedires dinheiro para brinquedos caros ou outro disparate qualquer, a resposta é não!
- E, de castigo, vais já para a cama. Vai pensando no menino egoísta que estás a ser. A minha vida de trabalho é dura demais para eu perder tempo com os teus
caprichos!

O rapazinho, cabisbaixo, dirigiu-se silenciosamente para o seu quarto e fechou a porta. Sentado na sala, o homem ficou a meditar sobre o comportamento do filho e ainda se irritou mais. Como se atrevia ele a fazer-lhe perguntas daquelas? Como é que, ainda tão novo, já se preocupava em arranjar dinheiro?
Passada mais ou menos uma hora, já mais calmo, o homem começou a ficar com remorsos da sua reacção. Talvez o filho precisasse mesmo de comprar qualquer coisa com os 5 euros. Afinal, nem era costume o miúdo pedir-lhe dinheiro.
Dirigiu-se ao quarto do filho e abriu devagarinho a porta.
- Já estas a dormir? Perguntou.
- Não, papá, ainda estou acordado. - respondeu o miúdo.
- Estive a pensar... Talvez tenha sido severo demais contigo? - disse o pai..
- Tive um longo e exaustivo dia e acabei por desabafar contigo. Toma lá os 5 euros que me pediste.

O rapazinho endireitou-se imediatamente na cama, sorrindo:
- Oh, papá! Obrigado!
E levantando a almofada, pegou num frasco cheio de moedas. O pai, vendo que o rapaz afinal tinha dinheiro, começou novamente a ficar zangado.
O filho começou lentamente a contar o dinheiro, até que olhou para o pai.
- Para que queres mais dinheiro se já tens aí esse todo ? - resmungou o pai.
- Porque não tinha o suficiente. Agora já tenho! - respondeu o miúdo.
- Papá, agora já tenho 15 euros! Já posso comprar uma hora do teu tempo, não posso? Por favor, vem uma hora mais cedo amanhã. Gostava tanto de jantar contigo...

(autor desconhecido - obrigado Olímpio)
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Nota do editor: Para quem este tema do dinheiro e da vida possa interessar, recomendo a leitura da revista Courrier Internacional (capa Fev.2008), agora nas bancas - cujo tema de capa é exactamente: "Ganhar menos e Viver melhor".




Talvez seja possível.

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7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Como se isso fosse possível: ganhar menos e viver melhor :))

quinta-feira, janeiro 31, 2008 11:55:00 da manhã  
Blogger Mário Rui Santos said...

E tens a certeza de que não é possível ?

quinta-feira, janeiro 31, 2008 12:02:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Julgo que há cada vez mais pessoas a pensar assim, mas não é propriamente uma tendência alinhada pela sociedade de consumo que nos propõe exactamente o contrário.

quinta-feira, janeiro 31, 2008 2:32:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

As contas que fazemos entre o que ganhamos e o que compramos são mal comparadas com o que ganhamos e desfrutamos. Somos convidados a comprar mais e desfrutar menos.

quinta-feira, janeiro 31, 2008 11:35:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

De facto é possível ganhar menos e viver muito melhor! Mas, também, reconheço que temos que ter o suficiente para satisfazer as nossas necessidades básicas. Apenas quando estas estão satisfeitas nos deixamos de sentir frustrados. Depois vêm as necessidades mais sublimes e essas o dinheiro não compra.
Há um equilíbrio a tentar atingir, certamente este pai ficou muito frustrado quando se apercebeu da tristeza do seu filho. Infelizmente há pais que não têm alternativa se querem que os filhos comam, tenham uma boa educação e cuidados de saúde. Mas os que têm, devem repensar quais as suas prioridades. Ser pai (e mãe) mais que direitos, impõe deveres.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008 12:04:00 da manhã  
Blogger Xicha said...

Já conhecia este texto e na verdade a questão essencial perde-se nas familias o que é uma pena, vamos manter sempre a esperança que ainda estamos a tempo de mudar alguma coisa.

E dependendo do ponto de vista, é sim, possivel, ganhar menos e viver melhor...
:)
XI

sexta-feira, fevereiro 01, 2008 11:18:00 da manhã  
Blogger Mário Rui Santos said...

Concordo Diana, os níveis de base têm de estar assegurados, a partir daí o tempo e a disponibilidade, para nós e para os que amamos, valem mais que o dinheiro.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008 1:36:00 da tarde  

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