É frequente eu ouvir dizer por parte de algumas pessoas com quem trabalho algo como: "não tenho coragem para fazer isso". Muito frequente.
Mas é interessante constatar a coragem que têm para sofrerem as consequências de não o fazerem. São os corajosos silenciosos.
Os corajosos que preferem ir sofrendo em silêncio, infligindo a si próprios as consequências de não agirem para a mudança.
Corajosos que têm a força de vontade para aceitar em silêncio aquilo que os incomoda. Que têm o poder de "engolir" em alternativa à acção, de fazer aquilo que alegadamente fará sofrer outra pessoa. Embora, provavelmente, continuem perpetuando sofrimentos, deles e de outros.
Corajosos que têm a "bravura" de projectar as suas frustrações em outros que nada têm a ver com a fonte dessas mesmas frustrações.
Corajosos que preferem ficar doentes porque reprimem sentimentos, porque a alternativa seria falar sobre algo que poderia incomodar alguém.
Corajosos que preferem tolerar em vez de chamar a atenção para algo que não está bem.
Corajosos que preferem criticar em vez de sugerir o que se pode fazer melhor.
A coragem é uma qualidade inata, que normalmente usamos da forma mais exigente: contra nós próprios.
Usá-la para o nosso bem e para o bem de quem nos rodeia é um exercício libertador, que nos responsabiliza mas que também nos torna mais felizes, mais atentos à vida e às coisas boas que ela tem para nos dar.
A coragem está na nossa matriz, no nosso ser, nas nossas células, mas enganamo-nos muitas vezes na sua utilização. E esforçamo-nos nesse erro.
É por isso que aquele que durante grande parte da sua vida sofreu em silêncio, tem as condições para falar sem gritar.
Aquele que aceitou, pode mudar.
Aquele que se sente frustrado, pode criar e produzir o bem.
Aquele que fica doente por reprimir os sentimentos, pode falar e ter as condições para estar saudável.
Aquele que tolerou, pode chamar a atenção.
Aquele que criticou, pode sugerir e ajudar a construir.
Aquele que usou a sua coragem contra si próprio, pode usá-la por si de uma forma libertadora.
Aquele que durante anos se esforçou para exercer a sua coragem contra si próprio, tem a condição e a responsabilidade para a deixar fluir por si e pelo seu bem-estar.
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"DEUS concede-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar
A coragem para mudar as coisas que posso
E a sabedoria para saber a diferença."
Reinhold Niebuhr
Comentários
Caramba!
Obrigada!